quinta-feira, 10 de março de 2011

Vento rasgando o suor afogado no rosto
bicicleta,movida à perna,a calor do corpo
Desfila magrela
pela estrada poética,catraca nossa fadiga
Quando livres, exaustos,
só resta o cansaço
ela renasce,pulsa de arte
no ritmo do peito arfante
rasga o pulmão,asfixiante
para que o ar entre,
pedale,
se afague
se enamore com a vontade
de correr sem direção
leve como o guidom

Duas rodas que são pétalas,
no deserto de gasolina,
vão fecundar esta carnificina
com liberdade,com ardor


Duas rodas pra frente
sem engarrafamento que enfrente!



quarta-feira, 9 de março de 2011

Vai um haicai pro Neruda

Pingos de chuva
lágrimas dos pássaros
lembranças de Neruda

Sede de tinta
seca o solo
sóis de pintura.

sábado, 5 de março de 2011

Madrugada decrépita, caem-se estrelas, rangem-se pernas.
Rangem-se dentes, até que se rasgue a pele do tempo,
se rache,
se seque,
se deserte,
sangre segundos mais eternos que um olhar.
Amordaça-se a mudez destes olhos que assobiam ilesos
o falso sossego da manhã que não é. Que não chega.
A manhã fugiu , nas entranhas do primeiro trem
Por motivos que não convém,
Linguagem do dia e da noite,
No abismo do caos são amantes da queda
Assim como nós, que amamos sem medo das sequelas
Minha barriga sem tu fica vazia,
Ruge a mais rouca ressonância,
Que se afina totalmente com a inconstância
Do barulho dos passos teus
Se inventando na areia.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Como-te com a ponta dos meus olhos,
já que não cabes em minha boca.
Mesmo que eu a abra toda,
distendendo a mandíbula,
retorcendo minha língua
para encaixar tuas grandes coxas,
trava no começo,engasgando minha garganta,
asfixiando meu utópico desejo de matar a minha fome de amar.
Se coubesse,mastigaria tua pele ardorosa,
como se fosse goma de tapioca,
dissolveria na saliva
até a vontade ficar implícita.
Contaria nos dedos,meus,teus,dos outros,os gostos,desgostos,desejos expostos que na memória da língua eu sentiria,sem mais me sentir

Queimo a fina membrana que separa minha imaginação da árida realidade, crio minhas próprias verdades,
crio bocas nos olhos
e enfim engulo-te por desfecho,
devoro-te por completo,
canibalizo teu pensamento mais complexo
até me extenuar em tuas lembranças,
e fazer parte de mim mesmo.