terça-feira, 21 de setembro de 2010

Parteira palavra

Palavra,
árdua,curta,náufraga.
Parteira monocelha,monocítara,monoseios.
Deusa afogada (em sopa paralítica)
Nosso affair calibre 38 me cheira a lambada, uma reles dor de cocada, barganha de coco barroco

Tu me matas de calvice
Borboleteia apendicite

em um jogo de mequetrefes frívolos: sou sua peça,cor de pele,cor de pétala,peteca,peteleco,pelé no xaveco,perereca murcha,sua baioneta,seu joelho de jagunço,nariz de palhaço furado nas fuças,meu corpo modesto atrás de seus xeque-mates.


Você,palavra,queres monopolizar de forma verbal o teatro de relações,mas escolheste a droga mais fraca,pois quando a palavra toque se desnuda,as pálpebras pulsam, íris-espelho dos hormônios tesudos,cinema mudo,sêmen contra útero, dois telespectadores.Boca mastiga boca,carne contra carne, luta que dura a bossa de uma tarde inteira, criança arteira que se balança em uma rede no quintal de um nordeste pederasta.

Minha voz te usa como disfarce, sobe,se contorce, metamorfose,mas do chão nunca larga.
Deixa minha bunda dormente e minha língua assanhada,cachoieira minha saliva devassa
peneira minha sílaba sentida
e seca meu suor com a sorte da primeira rapariga.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Chão

Se o chão insiste em ser quadrado,
eu soco,pisoteio,luto com meus cadarços
entorto sua língua,esfrego sua rotina,disformo seu retrato
até sobrar só
verso
lavado.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Overceta

Dor que alimenta
Prazer que atormenta
Pau duro de tristeza,
Ou overdose de boceta?

Anatomia

O céu,da cor dos teus olhos.
O inferno,do meio de suas pernas pra baixo.
Sua boca, os melhores dos meus prazeres terrenos.
De suas coxas,me lambuzo diariamente.
Nas suas costas eu suo,me acabo,derrapo sem direção,andarilho perdido em uma constante alucinação.
Sua nuca,um vulcão de perversão,que ao invés de derreter,gela o sangue do candango velho
Abdico de meus direitos e aceito ser órfão quando converso com o bico de teus seios...Fico mudo,mesmo com tanto assunto.
Me amarro na raiz de teus cabelos antes de meus berros virarem teus berros
Os lençóis,com nosso coro possessos,declaram sequestro
Nosso amor cede que nem areia movediça,quanto mais se esperneia,mais escravo fica
Suor,sadismo,mordida,saliva,licor feminino me intrubica
Veneno se misturou com remédio
O silêncio caiu do teto.




Mas pode dexá,agora sou seu médico particular

sábado, 11 de setembro de 2010

O morro

O canto das panelas se cala.A chuva se rasga,despencando indefinidamente.Tempestade áspera,desnuda o morro perdidamente.O mato,que já era ralo,se racha e dá lugar ao começo da garganta profunda desta terra sem dono,que traga a fumaça da destruição.Um a um,barraco por barraco, viram poeira perdida na noite e lasca de madeira sonâmbula.As gotas amargas do céu batem de porta em porta,se houver porta. Cospem sem perguntar nomes,caso haja-os,e o final desta tarde corriqueira abocanha os últimos farrapos de vida, se ainda corresse vida nas veias dos que foram esquecidos mofando.A montanha de corpos talvez renda algumas linhas no jornal.
As lágrimas dos sobreviventes distrofiados é abafada pela acústica da indiferença.Cidadãos vestidos do negro da noite sofrida contrastam com o branco pó que enriquece as armas e consome os viciados.
A metrópole envaidecida espera que seu programa de reality show preferido acabe para degustar os melhores corpos das garotas do morro e se masturbar com a ignorância de seus irmãos.
Ah,filhos do vento,também se perdem no amor e não se encontram na dor.Há barreiras na sua capacidade de comunicação,mas gaguejam para mostrar que o morro ainda lhes visita a lembrança.

Processo

Desta noite não passa.
Solavancos internos
causam uma estranha euforia
travestida de meus pensamentos,
ecoa como se fosse terapia
Dilúvio de poesia
Afugento-me nesse corpo de mar esquizofrênico,
mas as ondas passeiam,
velejam,solfejam e me balançam de volta ao litoral.
Garoa braba que desnuda os postes
Vento que sobe as saias e resfria quem no bar anda de porre
Sem receio rasgo do peito e transbordo no papel.
A primeira vista,nota-se que as letras nascem borradas,pois a tinta é incerta
assim como seu toque,que arde em minha pele sem pedir licença.
Doce insônia que embriaga minha tristeza de final de noite.
O café que mancha a margem do papel é quente como o sol do libido seguinte,
e negro como a ironia que,não obstante, estará presente no desenrolar de uma tarde febril.