segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Momento/dedicatória

A flauta que sola
A viola que chora
O dia que sua
Minha carícia que agora é tua.



A garrafa de cerveja que enche de espuma o gargalo
A vontade de ir ao banheiro que pede um intervalo
A flor de ipê-roxo que balança o vento em um carrosel violeta, numa viagem que une terra e céu.


A saudade que pede divórcio se o tempo não virar sócio



O pescoço da morena que ginga na praça,exalando um perfume de canela
A fogueira que seduz os olhos desde os tempos das cavernas

A cama que range,sonata de corpos ritmados



O inseto que chia a espera de seu predador, ou de teu verdadeiro amor.
Ao diferente que é taxado de louco,
Aos que causam medo,também são de carne,osso e remorso.



E aos que parecem comigo,que são meu oposto de tudo.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Cócegas

Cantei verdades e boas mentiras.
Soprei sussurros de dentro do meu peito,do tamanho do meu cabelo,do tamanho do mundo no escuro de teus tímpanos profundos.
Nada sei do futuro,se o sexo dos anjos é seguro,da cabeça do resto dos errantes deste mundo,quando diabo vira deus e abraça tudo,da loucura que me consome 6 litros de sangue por segundo,da carne de teus pensamentos que voam em um bater de asas mudo, como rimas prosadas,como nuvens em formato de lembrança e como os pássaros bicudos.Não sei quantas mulheres vão me esperar de tarde em suas janelas deixando as tarefas pesarem nas ancas,enquanto de longe olho para a ciranda do sol,das nuvens e dos aviões rasgantes do mar de céu e penso em compor uma música de seus endereços, anotados na canela.
Só sei que te fiz cócegas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

fuso deshorário

A vida com sabor
de ferida na boca
de mentira depilada
sem escolha
Brasília mudou suas asas de fuso-horário
pro dia sair atrasado
enquanto a noite
dá um mergulho no Lago
Para-no-ár.

Trago amoroso

Amor,ardor, as vezes dói,as vezes vicia,muda o tom de voz.
Qual seu significado?
Alguém viu no dicionário?
Ou terei que aprender ao contrário?

Refúgio

O medo do desfecho.
A faísca que pulsa em cheio
no poço do meu peito
pequena gota de molho dantesco abandonada num prato de macarrão
a faísca pode virar fiasco
incendiar de cabo a rabo
como a chuva anoitece
um acampamento de mato só
Só seus olhos de brasa
Fazem meu cabelo amante da brisa
fazem a ponta dos pelos do meu peito enrijecer
fazem minha cabeça no gelo adormecer.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Brasil no fundo

Nosso abismo social
é maior que o monte Everest
Seus esgotos são mais populosos que Bangladesh
Seu fedor entope,que surpresa- as narinas menos sensíveis,conquista até as mais entupidas por tráfico de influência e as vistas cansadas por alienação.
Em sua profundidade cabem oceanos nada Pacíficos
Mas na superfície,há superficiais parasitas comodistas compulsórios,mais carniça do que ossos,menos vida do que negócios
boiam como se estivessem no Mar Morto,como se fossem merda indigesta na água,que não afunda mas se cala (Come quieto! De abutres o céu já não tem estacionamento pra boquinha).
Tiriricas, Sarneys e Fillipelis se seguram em suas bóias de vinte e seis mil reais
E dão tchauzinho!

Tchau Brasil! O prato quente é férias nas ilhas caribenhas!Em Dúúbaai!
Cicatrizes coloniais se danam no rosto tupiniquim
Nossa constituição é chacota em conversa de botequim
Pois se um se afoga, o anzol nomeado imunidade parlamentar
ou de praxe um auxílio- corruptas vidas
desinfeta a falta de vida que lhes veste a gravata

Um abismo social abismado no peito de cada brasileiro ousado,
que vomita a hipocrisia e o desapego generalizado
Podem tentar parasitar minha vida em forma de rotina,mas não vão tocar na poesia que explode em meus poros!É minha ferida,é o meu fardo,é minha metralhadora verbo gástrico!

Vão pra PUTA QUE PARIU!Vamô tirar a barriga poética do atraso!ocupa todo mundo a rampa do palácio do planalto,vamos trocar a burrocracia por poesia,a hierarquia fardada pela horizontalidade libertária,tirar nosso sangue deste inferno astral,afogar a causa do abismo social.