segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Nossos olhares
Velejam como sete mares
Suas ondas só se encontram
de vez em nunca
Na volta salgada da praia
ou num choro de chuva
Solidão amargando ditadura
morar distante
horas bem curvas
morros berrantes
Cabe tão Brasiliada,vasta estrada,mesmo quando tarda
Só não cabe a saudade
de não te conhecer
Mas incendiar
Com o castanho de tua íris a me cegar
Teu sol escondido em mim caber
Tua lembrança me carcomer
Tenho fome
de descobrir teu nome
e te chamar
ao meu belprazer
Deixar tua pele
me cobrir,
descobrir-te
com meu desgaste do peito
me mantendo de pé.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O tempo
feito incenso
se esvai
Na cabeça
Uma hora e meia
Foi minuto atrás
Segundo se engole só
desafinado sem dó
dormência sem hora para desembestar
pulsa crença itensa
do tempo escorregar

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Saudade de uma cidade de mar
Com seu calçadão tragado de sal
Suas pernas abertas pro comércio informal
Seus transeuntes que se conhecem por meio do vem e vai
como as ondas bruscas de água carnal
puxada pelos pés de volta pro balanço, maré em soprano,
sem se despedir,mas ainda a se despejar
aos pés da ressaca, sedenta por afogar
esses amores desidratados da capital
Pifa,
ao menor choque de água-viva.

Saudade da Brasília crua
Comida pelo seu próprio carnaval
Vazia,sem curvas
Bocas de lobo entupidas de ruas
E nenhuma das pessoas astutas
para se despir de vendaval

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sonhos instantâneos
Carcarás insones
se alimentam tristonhos
do rubro falecimento do céu
0 Sol se dobra como papel
e a carapaça cálida da noite se solta
embriagando de escuridão
as vistas de empregados, putas e patrões
Sonhos pulsam soltos como os corações
mãos sinalizam rotas para caronar de contramão e coração
pra se perder de paixão
nem que se tenha que pagar
com gotas de sonho
que orvalham os bicos seiudos da madrugada
e as faces anêmicas do amanhecer
que de um porre de insolação enxurram
com ultravioleta a cegueira da lua arredia

Sonhos que surgem de indecisão
Parados no auge da bifurcação
Soltos são os sonhos
criados a fogo
derrapando na beira do ar
com o pé sujo de correr em quintal aberto
Faz com que ao limite não sejamos fiéis
Os feudos que delimitam a imaginação são rompidos!
Terra nova a vista
Se os prendermos
em nosso sótão de tormento
e os alimentarmos com nossas
migalhas furadas
Logo os mataremos
Junto com nossas metades.

Só calos de saudade.


Escrever
não é de comer
mas sacia
até quem por lombriga se atrofia
Empanturra de prazer
a dormência das mãos a fazer
o que no peito desmancha
Garrancha o vazio do papel
para desentupir a cabeça
vazia, culpada de pensar desleixa
e não mudar o curso da correnteza
Vomitar
letra
por letra
pro vômito escrito desafogar
da certidão de rotina fresca

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O cerrado virou buraco
Meu peito,descarnado
preso em arame farpado
o índio virou passado
Paulo Octávio de sorriso endinheirado
O patrimônio público virou asfalto
A água mineral do DF se esvai pelo ralo
dos banheiros de ouro do Setor Noroeste
Que se alastra como a peste
burocratizando as rebeliões
privatizando os corações
comprando a alma de multidões
De leste a oeste
a justiça brasileira não sai da maquete.
Muito amor para só uma dor
Muita dor para só um amor
Muito libido pra pouco cupido
Muito sentido pra pouca compreensão
Pouco peito pra toda solidão
Muito sangue para um só coração
Pouco cerrado pra muita plantação
Muita politicagem pra pouca movimentação
Uma só voz rouca para muita boca
Um só corpo para muita roupa
uma vida só para viver muitas vidas
Coagular as feridas
da dor de amar
Desenfreado se deixar multar
até doendo amar

Se amarrar
dar câimbra
até não caber lembrança
que faça
doer de amar

domingo, 14 de agosto de 2011

Se entregar ao abismo
Ser amante da queda
braços abertos ao vento
abraços à falta de tempo
que suga a vertigem
que tremia as pernas
na ponta da pedra
3 segundos
de gozo profundo
como a água
azul que devora
com sua boca silenciosa
que não consegue uma vez sequer
desamarrar essa imensidão inabalável
engole o corpo que despenca
mas é tão intenso que não aguenta
cospe a nado para a superfície
e esquece por um momento a crendice
que voar é impossível
e buscar ar nesse sopro molhado
é incompreensível
fluir como a cascata risível
aprofunda o baque rasgado
pela filtragem de pensamentos
se banhar de ferrugem do tempo
se empoeirar com a nudez do relento
boiar no céu do momento
como se no fundo fosse

uma eterna queda

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Que o concreto se encolha
Que o teto se exploda
Que sobre só ceu aberto
até onde a vista bata
e que a chuva rebata
qualquer atravancamento
no banho dos pensamentos,
bêbados de temporal.
A noite me chama
Mando ela partir
ela só faz sorrir
até que me cansa
dormir fica só na lembrança

domingo, 31 de julho de 2011

Correr calado
para ouvir
os passos
da respiração

res(piração)

ao ritmo-instante,
a estrada de terra abarca.
Sandália surrada
camiseta suada
brisa de poeira.
Ao pé da cachoeira,
deserto de pensamentos.
Pé fora do chão
sonho descalço
calcanhar rachado
de andar na contramão

domingo, 15 de maio de 2011

Despeço-me do mar, minha terra é perto do Paranoá.
Desço de um avião para voar com outras asas.Só que essas,
sem plano,
sem piloto,
sem direção

sábado, 2 de abril de 2011

Aperto
de mão
em mão
por um
tostão
de paixão

quinta-feira, 10 de março de 2011

Vento rasgando o suor afogado no rosto
bicicleta,movida à perna,a calor do corpo
Desfila magrela
pela estrada poética,catraca nossa fadiga
Quando livres, exaustos,
só resta o cansaço
ela renasce,pulsa de arte
no ritmo do peito arfante
rasga o pulmão,asfixiante
para que o ar entre,
pedale,
se afague
se enamore com a vontade
de correr sem direção
leve como o guidom

Duas rodas que são pétalas,
no deserto de gasolina,
vão fecundar esta carnificina
com liberdade,com ardor


Duas rodas pra frente
sem engarrafamento que enfrente!



quarta-feira, 9 de março de 2011

Vai um haicai pro Neruda

Pingos de chuva
lágrimas dos pássaros
lembranças de Neruda

Sede de tinta
seca o solo
sóis de pintura.

sábado, 5 de março de 2011

Madrugada decrépita, caem-se estrelas, rangem-se pernas.
Rangem-se dentes, até que se rasgue a pele do tempo,
se rache,
se seque,
se deserte,
sangre segundos mais eternos que um olhar.
Amordaça-se a mudez destes olhos que assobiam ilesos
o falso sossego da manhã que não é. Que não chega.
A manhã fugiu , nas entranhas do primeiro trem
Por motivos que não convém,
Linguagem do dia e da noite,
No abismo do caos são amantes da queda
Assim como nós, que amamos sem medo das sequelas
Minha barriga sem tu fica vazia,
Ruge a mais rouca ressonância,
Que se afina totalmente com a inconstância
Do barulho dos passos teus
Se inventando na areia.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Como-te com a ponta dos meus olhos,
já que não cabes em minha boca.
Mesmo que eu a abra toda,
distendendo a mandíbula,
retorcendo minha língua
para encaixar tuas grandes coxas,
trava no começo,engasgando minha garganta,
asfixiando meu utópico desejo de matar a minha fome de amar.
Se coubesse,mastigaria tua pele ardorosa,
como se fosse goma de tapioca,
dissolveria na saliva
até a vontade ficar implícita.
Contaria nos dedos,meus,teus,dos outros,os gostos,desgostos,desejos expostos que na memória da língua eu sentiria,sem mais me sentir

Queimo a fina membrana que separa minha imaginação da árida realidade, crio minhas próprias verdades,
crio bocas nos olhos
e enfim engulo-te por desfecho,
devoro-te por completo,
canibalizo teu pensamento mais complexo
até me extenuar em tuas lembranças,
e fazer parte de mim mesmo.


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Inferno rasgado ao meio
Pelos dentes de libido,de infarto,de desejo.
Conceito quebrado em cheio
Um veraneio de peças de quebra-cabeça trocadas com o acaso,
sem medo do descaso alheio e comprado.
Pondo os panos nos pratos,
o batuque fora do compasso
o grito fora da garganta
a garganta dentro da caçamba
que leva pra boemia que explode no meio do teu mato

Aponto minha arma,
carne em brasa,
ejaculo tuas graças
rasgo teu pudor ao meio
faço nascer outra em teu leito
desafino meu ouvido,só ouço agora teus sons afiados,que ecoam pelo céu, mulato borrado.

Sôfrego,viro instinto.
viro palavra,
esvoaçante, meio cruzada,
folgada em teu seio, tatuada meio a meio.

Sôfrego, reviro-me em teus lábios,
até o divino ser desfeito
meu amor em teu corpo, liquefeito.

E nascemos um no outro, imperfeitos.



quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O que esperar das verdades deste mundo,
a não ser um cheque sem fundo?

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Momento/dedicatória

A flauta que sola
A viola que chora
O dia que sua
Minha carícia que agora é tua.



A garrafa de cerveja que enche de espuma o gargalo
A vontade de ir ao banheiro que pede um intervalo
A flor de ipê-roxo que balança o vento em um carrosel violeta, numa viagem que une terra e céu.


A saudade que pede divórcio se o tempo não virar sócio



O pescoço da morena que ginga na praça,exalando um perfume de canela
A fogueira que seduz os olhos desde os tempos das cavernas

A cama que range,sonata de corpos ritmados



O inseto que chia a espera de seu predador, ou de teu verdadeiro amor.
Ao diferente que é taxado de louco,
Aos que causam medo,também são de carne,osso e remorso.



E aos que parecem comigo,que são meu oposto de tudo.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Cócegas

Cantei verdades e boas mentiras.
Soprei sussurros de dentro do meu peito,do tamanho do meu cabelo,do tamanho do mundo no escuro de teus tímpanos profundos.
Nada sei do futuro,se o sexo dos anjos é seguro,da cabeça do resto dos errantes deste mundo,quando diabo vira deus e abraça tudo,da loucura que me consome 6 litros de sangue por segundo,da carne de teus pensamentos que voam em um bater de asas mudo, como rimas prosadas,como nuvens em formato de lembrança e como os pássaros bicudos.Não sei quantas mulheres vão me esperar de tarde em suas janelas deixando as tarefas pesarem nas ancas,enquanto de longe olho para a ciranda do sol,das nuvens e dos aviões rasgantes do mar de céu e penso em compor uma música de seus endereços, anotados na canela.
Só sei que te fiz cócegas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

fuso deshorário

A vida com sabor
de ferida na boca
de mentira depilada
sem escolha
Brasília mudou suas asas de fuso-horário
pro dia sair atrasado
enquanto a noite
dá um mergulho no Lago
Para-no-ár.

Trago amoroso

Amor,ardor, as vezes dói,as vezes vicia,muda o tom de voz.
Qual seu significado?
Alguém viu no dicionário?
Ou terei que aprender ao contrário?

Refúgio

O medo do desfecho.
A faísca que pulsa em cheio
no poço do meu peito
pequena gota de molho dantesco abandonada num prato de macarrão
a faísca pode virar fiasco
incendiar de cabo a rabo
como a chuva anoitece
um acampamento de mato só
Só seus olhos de brasa
Fazem meu cabelo amante da brisa
fazem a ponta dos pelos do meu peito enrijecer
fazem minha cabeça no gelo adormecer.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Brasil no fundo

Nosso abismo social
é maior que o monte Everest
Seus esgotos são mais populosos que Bangladesh
Seu fedor entope,que surpresa- as narinas menos sensíveis,conquista até as mais entupidas por tráfico de influência e as vistas cansadas por alienação.
Em sua profundidade cabem oceanos nada Pacíficos
Mas na superfície,há superficiais parasitas comodistas compulsórios,mais carniça do que ossos,menos vida do que negócios
boiam como se estivessem no Mar Morto,como se fossem merda indigesta na água,que não afunda mas se cala (Come quieto! De abutres o céu já não tem estacionamento pra boquinha).
Tiriricas, Sarneys e Fillipelis se seguram em suas bóias de vinte e seis mil reais
E dão tchauzinho!

Tchau Brasil! O prato quente é férias nas ilhas caribenhas!Em Dúúbaai!
Cicatrizes coloniais se danam no rosto tupiniquim
Nossa constituição é chacota em conversa de botequim
Pois se um se afoga, o anzol nomeado imunidade parlamentar
ou de praxe um auxílio- corruptas vidas
desinfeta a falta de vida que lhes veste a gravata

Um abismo social abismado no peito de cada brasileiro ousado,
que vomita a hipocrisia e o desapego generalizado
Podem tentar parasitar minha vida em forma de rotina,mas não vão tocar na poesia que explode em meus poros!É minha ferida,é o meu fardo,é minha metralhadora verbo gástrico!

Vão pra PUTA QUE PARIU!Vamô tirar a barriga poética do atraso!ocupa todo mundo a rampa do palácio do planalto,vamos trocar a burrocracia por poesia,a hierarquia fardada pela horizontalidade libertária,tirar nosso sangue deste inferno astral,afogar a causa do abismo social.