terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Santa Bárbara

Quero pedalar até a chapada.
Quero namorar aos pés de Santa Bárbara
Pedaço de céu que se desvidraça em água viva,energia molhada.
Quero cirandar um manifesto
que proíba indústria pesada,entrequadra,empreitada e uma caralhada de nexo pseudo-civilizado e vão na terra de Santa Bárbara.
Quero um cigarro de palha,um dia de trilha com a mulher amada e uma viola trincada em uma nota sol de verão.
Cerrado nasce da fogueira,a comunidade do adobe se farteia, e os dias,distraídos do Morro da Baleia até meu dúbio coração, dão gosto quando se vão.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Tique Traque

Conto as horas que faltam para o relógio quebrar.

Boca de fogo

A poesia queima em meu peito
como se o fogo pudesse falar.
Nossas cinzas,amantes de uma longa estrada,calor que seduz em brasa,de pulmão aberto.
prazer intenso de uma só respirada,
Boca que não se farta,
Orgasmo berrante de beira de madrugada.
Um olho aberto,o outro meio fechado
Vejo mulheres,vira-latas,candangos,colombianos,acrobatas,comerciantes piratas
Uma revolução a céu aberto.
Ou um simples desenho em meu teto.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Gastrite

Motor alcoolizado
Meu corpo, desde sempre condenado.
Vrummm, plack. Caronando a vida maurícia,o amor convencional alheio,
mas não tarda e me detetizam.Na sarjeta me valorizam.
Gargarejam em meu mecanismo,um trambique pancreático
entope,pedindo sangue novo,o meu veio com defeito de poeta.
Pessimismo precoce.
Subversão molotov
Cuspe dilacera
Meu ventre te espera
Enfim você chega
Meu verbo gástrico te violenteia
porque não quer mais te renegar
Você parte de caiaque,um breve olhar silencia o adeus de saudade.Pura vaidade.
Falo sozinho,só assim não fico calado
Minhas vértebras pousaram como em um porta-retratos
Meus calos reluzem como estrelas rendadas,no céu,
transparente cordel de cerrado molhado,
Único que alimenta todos os esfomeados,boêmios e maltratados.
E só a nudez da noite acaricia
o protesto de silêncio de um malandro,que não tarda ginga com a boca da lua,só dentes e samba.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Vidinha

Minha viola, anda mal das cordas.
Minha velha, anda mal das pernas.
Ainda vou ser preso por baderna,
casar só de pirraça
vender minha alma na praça
e depois me esconder entre as pernas
de uma cigana cor de cachaça.


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Parteira palavra

Palavra,
árdua,curta,náufraga.
Parteira monocelha,monocítara,monoseios.
Deusa afogada (em sopa paralítica)
Nosso affair calibre 38 me cheira a lambada, uma reles dor de cocada, barganha de coco barroco

Tu me matas de calvice
Borboleteia apendicite

em um jogo de mequetrefes frívolos: sou sua peça,cor de pele,cor de pétala,peteca,peteleco,pelé no xaveco,perereca murcha,sua baioneta,seu joelho de jagunço,nariz de palhaço furado nas fuças,meu corpo modesto atrás de seus xeque-mates.


Você,palavra,queres monopolizar de forma verbal o teatro de relações,mas escolheste a droga mais fraca,pois quando a palavra toque se desnuda,as pálpebras pulsam, íris-espelho dos hormônios tesudos,cinema mudo,sêmen contra útero, dois telespectadores.Boca mastiga boca,carne contra carne, luta que dura a bossa de uma tarde inteira, criança arteira que se balança em uma rede no quintal de um nordeste pederasta.

Minha voz te usa como disfarce, sobe,se contorce, metamorfose,mas do chão nunca larga.
Deixa minha bunda dormente e minha língua assanhada,cachoieira minha saliva devassa
peneira minha sílaba sentida
e seca meu suor com a sorte da primeira rapariga.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Chão

Se o chão insiste em ser quadrado,
eu soco,pisoteio,luto com meus cadarços
entorto sua língua,esfrego sua rotina,disformo seu retrato
até sobrar só
verso
lavado.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Overceta

Dor que alimenta
Prazer que atormenta
Pau duro de tristeza,
Ou overdose de boceta?

Anatomia

O céu,da cor dos teus olhos.
O inferno,do meio de suas pernas pra baixo.
Sua boca, os melhores dos meus prazeres terrenos.
De suas coxas,me lambuzo diariamente.
Nas suas costas eu suo,me acabo,derrapo sem direção,andarilho perdido em uma constante alucinação.
Sua nuca,um vulcão de perversão,que ao invés de derreter,gela o sangue do candango velho
Abdico de meus direitos e aceito ser órfão quando converso com o bico de teus seios...Fico mudo,mesmo com tanto assunto.
Me amarro na raiz de teus cabelos antes de meus berros virarem teus berros
Os lençóis,com nosso coro possessos,declaram sequestro
Nosso amor cede que nem areia movediça,quanto mais se esperneia,mais escravo fica
Suor,sadismo,mordida,saliva,licor feminino me intrubica
Veneno se misturou com remédio
O silêncio caiu do teto.




Mas pode dexá,agora sou seu médico particular

sábado, 11 de setembro de 2010

O morro

O canto das panelas se cala.A chuva se rasga,despencando indefinidamente.Tempestade áspera,desnuda o morro perdidamente.O mato,que já era ralo,se racha e dá lugar ao começo da garganta profunda desta terra sem dono,que traga a fumaça da destruição.Um a um,barraco por barraco, viram poeira perdida na noite e lasca de madeira sonâmbula.As gotas amargas do céu batem de porta em porta,se houver porta. Cospem sem perguntar nomes,caso haja-os,e o final desta tarde corriqueira abocanha os últimos farrapos de vida, se ainda corresse vida nas veias dos que foram esquecidos mofando.A montanha de corpos talvez renda algumas linhas no jornal.
As lágrimas dos sobreviventes distrofiados é abafada pela acústica da indiferença.Cidadãos vestidos do negro da noite sofrida contrastam com o branco pó que enriquece as armas e consome os viciados.
A metrópole envaidecida espera que seu programa de reality show preferido acabe para degustar os melhores corpos das garotas do morro e se masturbar com a ignorância de seus irmãos.
Ah,filhos do vento,também se perdem no amor e não se encontram na dor.Há barreiras na sua capacidade de comunicação,mas gaguejam para mostrar que o morro ainda lhes visita a lembrança.

Processo

Desta noite não passa.
Solavancos internos
causam uma estranha euforia
travestida de meus pensamentos,
ecoa como se fosse terapia
Dilúvio de poesia
Afugento-me nesse corpo de mar esquizofrênico,
mas as ondas passeiam,
velejam,solfejam e me balançam de volta ao litoral.
Garoa braba que desnuda os postes
Vento que sobe as saias e resfria quem no bar anda de porre
Sem receio rasgo do peito e transbordo no papel.
A primeira vista,nota-se que as letras nascem borradas,pois a tinta é incerta
assim como seu toque,que arde em minha pele sem pedir licença.
Doce insônia que embriaga minha tristeza de final de noite.
O café que mancha a margem do papel é quente como o sol do libido seguinte,
e negro como a ironia que,não obstante, estará presente no desenrolar de uma tarde febril.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Prólogo ou saideira?

Sem delongas.Declaro aberta a temporada de caça,pois eu que mando nessa porra.Desaguo-me neste cinzeiro, rio de palavras pálidas que se rasteja entre as pernas entreabertas de minha maldição.Escrevo teu falso nome em vão.Te bato,te rasgo,te desejo,me apedrejo,faço-me o seu chão.Arranco-te a última de suas roupas,e como ainda continuas muda,pobres olhos a me fitar,roubo sua nudez marcada por hematomas,repletos do mais puro chacoalhar de mágoa,revolta e libido que se entrelaçam no desbotar de seus seios,um breve placebo para meus mendigos anseios,meu pseudo lirismo desbocado as avessas, voz de professor aposentado que não larga o seu osso,jamé.Vomito pelas brechas do discurso lógico,pois o sistema a minha volta pulsa ilógica,suas paredes brocham,suas genitálias sedentas morrem em sono desértico,e ao menor dos meus incômodos, seus alicerces gangrenam em pranto.Beijo o céu do meu abismo,meu vinho agora é vinagre,minhas asas declinam na neblina.Admita,meu bem,só nos resta uma vida de morfina.A luz é lembrança,a dor já se fartara.A madrugada está viva.